O Conselho Episcopal Latino-Americano e Caribenho (Celam) deu início, na última terça-feira, 27, à sua 40ª Assembleia Geral Ordinária. O encontro, que acontece no Rio de Janeiro, foi escolhido para marcar os 70 anos da histórica primeira Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano, realizada em 1955, também na então capital brasileira.
Com representantes de 22 países, a Assembleia reúne bispos e secretários das Conferências Episcopais da América Latina e do Caribe para refletir sobre os principais desafios sociais, econômicos e eclesiais enfrentados pela região.
Durante as atividades, os participantes compartilharam diagnósticos e preocupações relativas às realidades locais. Um dos destaques das discussões foi a fala de dom Ricardo, bispo auxiliar de Brasília e secretário-geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), que apresentou um panorama da situação atual do país, marcada, segundo ele, por “profundas transformações sociais, culturais e eclesiásticas”.
Dom Ricardo ressaltou que o Brasil enfrenta um contexto de insegurança e incerteza quanto ao futuro.
“A maior preocupação dos bispos do Brasil é a crise futura. Enfrentamos um tempo que fragiliza a capacidade de projetar a vida com um horizonte amplo”, afirmou.
Ele destacou ainda a tensão nas estruturas democráticas, o aumento da violência — com ênfase no feminicídio e na atuação de facções criminosas — e a crescente crise socioambiental, evidenciada por desastres climáticos recentes, como os que atingiram Porto Alegre e outras regiões do Sul.
No campo eclesial, o bispo apontou sinais de desesperança e criticou uma pastoral ainda voltada à conservação de costumes, sem responder adequadamente às demandas de uma sociedade plural.
“A individualização da fé enfraquece a dimensão comunitária e missionária”, alertou.
Ele também mencionou o risco de polarização nas propostas pastorais, que, se não forem abertas ao diálogo, podem fragmentar ainda mais o tecido eclesial.
Apesar das dificuldades, dom Ricardo destacou sinais positivos, como iniciativas de escuta, criatividade pastoral e presença solidária da Igreja nas periferias. Para ele, esses movimentos apontam caminhos de esperança e renovação, alinhados com o chamado do Papa Francisco para o Jubileu da Esperança.
“O Jubileu nos interpela a renovar a missão e testemunhar a comunhão. A separação da desesperança passa por uma Igreja aberta ao diálogo, com valentia, para abraçar a pluralidade sem perder a fidelidade ao Evangelho”, concluiu.
A Assembleia do Celam segue ao longo da semana promovendo debates sobre os rumos da Igreja na América Latina e Caribe, com o compromisso de “semear esperança” em meio às complexas realidades vividas pelos povos da região.
Por Larissa Carvalho / Fotos: Luiz Lopes Jr