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O Papa no Cazaquistão, Dom Dell\'Oro: beleza e caridade são o caminho do diálogo

À espera do Pontífice, o bispo de Karaganda fala sobre os desafios da minoria católica por ele liderada, uma comunidade com criatividade e proximidade com os mais fracos.

Publicada em 12/09/22 às 12:14h - 52 visualizações

por Vatican News


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O Papa no Cazaquistão, Dom Dell\'Oro: beleza e caridade são o caminho do diálogo  (Foto: Vatican News )

Antonella Palermo - Cidade do Vaticano

Na terça-feira, 13 de setembro, o Papa Francisco partirá para o Cazaquistão. No país asiático, dos 19 milhões de habitantes, 70% são de fé muçulmana, enquanto 26% são cristãos, principalmente ortodoxos; os católicos são cerca de 120.000. Outrora as comunidades católicas eram compostas por diferentes grupos étnicos, especialmente ex-deportados do regime soviético, mas após a independência muitos deles retornaram aos seus respectivos países de origem e ainda hoje, devido à situação econômica, esse fenômeno migratório continua.

A expectativa dos católicos: previstas chegadas também das ex-repúblicas soviéticas

 

A expectativa pela chegada do Papa entre os fiéis católicos é grande. Eles estão distribuídos em quatro dioceses, cada uma tomando o nome da catedral que se ergue no local e não do território geográfico (Arquidiocese de Maria Santíssima em Astana - Nur-Sultan, Diocese da Santíssima Trindade em Almaty, Diocese de Karaganda e a Administração Apostólica de Atyrau) para um total de 70 paróquias, e são assistidas por cerca de cem sacerdotes.

Grupos de peregrinos de São Petersburgo, Moscou, Novosibirsk, Omsk e até Quirguistão, católicos que vivem nesses países, também são esperados. Nesta realidade eclesial numericamente diminuta há um fermento não negligenciável, como explica de Karanga Dom Adelio Dell'Oro, para um território diocesano que, por extensão, é duas vezes e meia o tamanho da Itália. Ele é pastor ali há sete anos e meio, tendo vivido lá desde 1997 como sacerdote Fidei donum. Fala-nos do 'imenso' trabalho de coleta de adesões às romarias que levarão os fiéis à capital para o encontro com Francisco, dada a vastidão do território.

A vastidão do território cazaque apresenta desafios importantes do ponto de vista da evangelização. À luz da Constituição Apostólica Praedicate evangelium, que sublinha o aspecto missionário da Igreja em todos os contextos, como o senhor  vive este ulterior estímulo numa terra onde exerce sua missão já há algum tempo?

Foi precisamente esta a minha maior preocupação. Como todos sabem, foram setenta anos de regime soviético em que qualquer forma de expressão religiosa era proibida e os crentes de várias religiões, não apenas os católicos, eram como que obrigados a viver a experiência da fé de forma clandestina. E temos grandes testemunhos desse período. Por exemplo, há seis anos, em setembro, foi beatificado um sacerdote amigo do Papa Wojtyla, entre outras coisas, Władysław Bukowiński, que passou 13 anos e meio em um campo de concentração e depois, quando foi libertado, precisamente em Karaganda, desenvolveu intensa atividade neste território ,porque não podiam sair. Viviam os sobreviventes dos campos de concentração, incluindo muitos católicos. Havia também uma mulher, Gertrude Detzel: ela também passou 13 anos em um campo de concentração e, quando foi libertada, organizou clandestinamente muitas comunidades católicas aqui na cidade de Karaganda.

Em agosto do ano passado abrimos o processo diocesano para sua beatificação. Então vem 1991, a independência chega e todos podem finalmente sair dos porões Também aqui chegaram muitos sacerdotes, convidados, sobretudo da Alemanha e da Polônia, para organizar estruturas eclesiásticas, construir igrejas, organizar a vida das paróquias. Assim eu vejo, por um lado a coragem que os primeiros missionários tiveram e por outro um limite, ou seja, que eles só se dirigiam, digamos, aos católicos de sua nacionalidade. Além disso, aconteceu que após a independência muitos católicos, especialmente alemães e poloneses, retornaram à sua pátria. Portanto, essas comunidades, que depois de 91 eram muito vivas e numerosas, foram diminuindo ao longo do tempo. À luz desta história, a maior preocupação que vivo é perguntar-nos se todos os sacrifícios que foram pedidos às gerações de crentes antes de nós foram úteis ou não. Estamos destinados a desaparecer? Ou o Senhor está nos pedindo algo?

Que respostas são dadas?

O que me parece vislumbrar é que devemos aproveitar o fato de que em uma terra que era ateísta foi possível e pode-se viver a fé, uma fé que torna nossa vida bela, atraente, alegre e como nós podemos estar abertos - como repetia Papa Bento XVI, retomado depois pelo Papa Francisco - ser atraentes para todos, incluindo os cazaques, que são 78% da população e que são de tradição muçulmana. Os dois caminhos que procurei propor aos sacerdotes, às irmãs e aos leigos da diocese em meus sete anos e meio de serviço são a beleza e a caridade. Um exemplo que dou diz respeito ao fato de que na catedral de Karaganda existe o único órgão grande e bonito, um presente da Áustria (dois outros estão nas academias de música de Almaty e Astana). Geralmente, de abril a outubro, cerca de duas vezes por mês, temos concertos de música sacra de órgão. A catedral fica cheia, com as pessoas em pé. Isso significa que o coração de todo homem, independentemente de sua nacionalidade, sua filiação religiosa, tem uma enorme sede de beleza. Uma beleza que nos leva ao mistério, a Deus. Outro exemplo é que no fim de semana todos os jovens casais - muçulmanos, ortodoxos, protestantes - vêm ser fotografados tendo como pano de fundo a catedral, que foi construída em estilo gótico moderno, muito lindo e é impressionante. Às vezes nem sabem de onde vêm. Eu os encontro para felicirá-los e perguntar: por que vocês vieram aqui? E eles se perguntam: onde encontrar um castelo tão bonito em nossas cidades? E assim se torna um motivo para iniciar um diálogo com eles também.

Depois, há caridade. Nós, fora do recinto das nossas igrejas paroquiais, nada podemos fazer como Igreja. Também se aplica às outras religiões da cidade. Quando realizamos reuniões de sacerdotes ou religiosas não podemos, como era possível nos anos noventa, alugar espaços (sanatórios, casas de repouso...) que ainda eram usados ​​na era soviética. Devemos nos organizar dentro de nossas estruturas, porque a liberdade religiosa ainda não está totalmente aperfeiçoada. Mas quando chega um homem com uma necessidade urgente, tenho certeza de que, por aquele pedaço de pão ou por aquele remédio que lhe podemos dar, passa mais, passa o amor de Cristo para eles. Este é o milagre. Certa vez as Irmãs de Madre Teresa, que vivem com cerca de trinta sem-teto em uma cidade industrial próxima e onde há uma grande siderúrgica, no inverno, abrem para um homem que bateu à sua porta. Ele pede para ser internado, mas tem tuberculose. Elas não sabiam o que fazer. Então se lembram de um banheiro pequeno que tinham, limparam-no, tiram um colchão e o fazem deitar. Este homem, virando-se para as freiras, diz: "Se existe céu, deve ser como este banheiro!".

O senhor poderia nos contar alguma recordação pessoal do que mais o impressionou quando começou sua missão nesta terra? E o que desse povo, encruzilhada de outros povos e culturas, foi possível valorizar mais ao longo do tempo?

Chegando aqui encontrei grande destruição, que foi fruto da agonia da União Soviética. Você acordava de manhã e não sabia se tinha água fria ou água quente ou mesmo se tinha água. Lembro-me de uma semana, 40 graus abaixo de zero nas ruas, sem aquecimento. A cidade não era iluminada à noite, corrente elétrica hora tinha, hora não... Mas não foi isso que mais me chocou. O que mais me tocou foi a destruição da responsabilidade da pessoa humana. O homem soviético nos últimos anos não era mais responsável por nada. Isso entre os adultos, porém entre os jovens, o contrário. E esta é a coisa muito bonita que encontrei. Tive a oportunidade de ensinar língua e cultura italiana na Karaganda State University por seis anos. Lembro-me do desejo, da sede que os jovens tinham de dar sentido à sua vida. Não em livros, mas com canções folclóricas italianas, com cozinha italiana, cozinhando espaguete, pizza, tiramisu, perceberam que havia algo que não haviam encontrado até então e começaram a vir.

Nos conhecemos, estudamos, cantamos, alugamos um quarto onde eu ia todas as sextas-feiras. E daí surgiu uma enxurrada de perguntas. Este é o maior milagre na minha opinião que eu já tinha visto e é que a vida deles mudou. Eles não sabiam o porquê, o fato é que a vida deles estava ficando linda. Lembro-me de um jovem cazaque que depois de dez anos disse: "É Jesus, é Jesus que mudou a minha vida, estou pedindo o batismo!". E com ele muitos outros. Eu acrescentaria que o povo cazaque é um povo de uma humanidade muito, muito grande, com uma capacidade muito grande de acolher, especialmente os idosos. É impressionante. A palavra 'cazaque' na gíria significa 'andarilho', 'aquele que se move na estepe', 'nômade'. Provavelmente nessas condições de vida seus ancestrais herdaram esses valores humanos que de alguma forma permaneceram.

Como o senhor recorda a visita de João Paulo II ao país há 21 anos? E como o Cazaquistão mudou do ponto de vista eclesial, ecumênico e social?

Foi impressionante aquela visita que por sinal ninguém esperava mais nos últimos dias. Houve o trágico episódio do atentado terrorista de 11 de setembro... Todos apreciaram, desde o presidente até as pessoas mais simples, a decisão e a coragem que o Papa teve em vir, apesar daquela situação de medo em todo o mundo. Há outra coisa a acrescentar: que ninguém sabia quem era o Papa de Roma, o líder dos católicos de todo o mundo. Naqueles anos, os telefones e a internet estavam apenas começando a aparecer. Afinal, nós na Europa nem sabíamos onde ficava o Cazaquistão. Mas a curiosidade e a vontade de entender mobilizou muita gente. E deve ter havido cerca de 40.000 pessoas na Missa. Muita coisa mudou nos últimos anos: a globalização permite que as pessoas experimentem o que está acontecendo em todo o mundo em tempo real. Parece, portanto, ver que toda essa expectativa não existe. Na realidade é muito, muito alto, nos níveis de governo, da presidência da República. O presidente convidou calorosamente o Papa Francisco, certo de que sua presença física foi uma notável contribuição para a harmonia e a paz em todo o mundo.

Como o senhor reagiu à ausência anunciada do Patriarca Kirill no Congresso de Líderes Mundiais e Religiões Tradicionais?

Com grande tristeza e dor, porque à margem deste Congresso das Religiões certamente, se ambos estivessem presentes, o Papa Francisco e o Patriarca Kirill teriam inevitavelmente de se encontrar. E depois dessa reunião que eles tiveram on-line, poderia ter sido uma oportunidade muito, muito eficaz e incisiva para uma avaliação sobre o que está acontecendo, não do ponto de vista político, mas religioso. Penso também nos muçulmanos, deste ponto de vista: se Deus é um, somos todos seus filhos e filhas e, portanto, irmãos e irmãs entre nós. E, portanto, como o Papa está gritando, a guerra é a coisa mais horrenda e inconcebível que pode existir. Ainda mais quando acontece entre povos cristãos.

No dia 14 de setembro - para os cristãos, é a festa da Exaltação da Santa Cruz - o Papa celebrará a Missa com vocês. Que valor especial terá no contexto mais amplo em que a guerra na Ucrânia traz provações dolorosas e levanta sérias preocupações globais?

Far-nos-á recordar de todos os sofrimentos que ocorreram nestas terras: basta pensar que Karaganda era o centro de um sistema lager tão grande quanto a França, cerca de trinta quilômetros na estepe daqui, há uma vala comum onde muitos estão enterradas pessoas de tantas nacionalidades, cerca de 20.000 prisioneiros de guerra. Em Dolinka, o centro de negócios desse sistema lager, hoje existe um museu que recorda essa terrível história. Então, certamente a Festa da Exaltação da Santa Cruz nos lembra que, como foi para Jesus, a salvação só pode passar pela cruz. Obedecer à vontade de Deus pode levar a uma nova vida para a pessoa. E se há homens mudados para uma nova sociedade.




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